“Vivo para ajudar os meus filhos e acompanhar o crescimento dos meus netos”

Carlos Guardado
Carlos Guardado é o gerente do Centro Clínico Unidade Cardiovascular – Ucardio, em Riachos. Carlos Guardado tem 77 anos e continua a trabalhar. Com 23 anos ofereceu-se para ir combater na guerra. Esteve em Angola mais de três anos. Trabalhou nas oficinas de material aeronáutico em Alverca, passou pela Força Aérea e Exército, mas a maior parte da sua vida foi bancário em Lisboa, Minde e Torres Novas. Reformado, é proprietário e gerente da clínica Ucardio, em Riachos.

Sou natural de Riachos, passei aqui uma infância muito feliz. Fui estudar para Torres Novas até ao 5º ano e depois para Tomar, onde terminei o curso industrial. Tenho óptimas memórias de quando era miúdo e brincava aqui pelas ruas. Antigamente tínhamos todos infâncias mais saudáveis, comparando com agora. Não havia medo de andar nas ruas, as pessoas eram mais honestas. Agora é diferente. Mesmo em Riachos já ninguém deixa a chave na porta.

Ao contrário da grande maioria, fui eu que me ofereci para ir para a guerra. Tomei essa decisão aos 23 anos, nem sei bem porquê, talvez com o desejo de aventura. Estive em Angola três anos e três meses. Regressei em Maio de 1969 e foi uma experiência que não me arrependo de ter tido. Quanto às decisões políticas que foram tomadas, isso são assuntos que prefiro não comentar. Enquanto jovem, ia com a ideia de que ia servir o meu país, só isso.

Reformei-me aos 52 anos mas aos 77 ainda continuo a trabalhar. Só me sinto bem activo. Não consigo estar parado. Trabalhei nas oficinas gerais de material aeronáutico, em Alverca, depois fui para a tropa e a seguir trabalhei como bancário grande parte da minha vida. Passei por bancos em Lisboa, Minde e Torres Novas. Decidi abrir o Centro Clínico Unidade Vascular – Ucardio, em 2001, para um dos meus filhos, que é cardiologista, poder trabalhar com as pessoas da vila. Mas, neste momento, já tem utentes de toda a parte do concelho e até fora dele. O centro clínico foi ampliado e actualmente tem 29 médicos em prestação de serviços que vêm de Lisboa, Coimbra e Leiria dar aqui consulta em diversas áreas. Gosto muito de ciclismo e cheguei a treinar pelo Clube Desportivo Os Águias de Alpiarça. Aliás, ainda cheguei a ganhar provas como individual. Lembro-me de várias provas que fiz. Foram momentos muito bons. Depois, por causa do trabalho, deixei de ter tempo.

Já enfrentei várias doenças, algumas complicadas, mas nada me faz parar. Tudo se supera quando há força de vontade e quando metemos na cabeça que vamos conseguir ultrapassar as adversidades. Tenho dois filhos e três netos que acompanho muito. Passo momentos deliciosos com eles. Além deles, tenho uma esposa perfeita, que me apoia muito e foi também a impulsionadora do projecto da clínica. Não leio livros, prefiro jornais e algumas publicações sobre saúde. Leio alguns jornais regionais para estar a par dos assuntos do dia-a-dia, mas pouco mais. Livros não gosto de ler, cansam-me. Gosto de ler as revistas de algumas especialidades da medicina. Ia muito ao cinema antigamente, agora já não. Gostava muito de ir ver comédias e filmes de cowboys. Os policiais de agora são muito parados.

Agora já não há muito desse género e deixei de ir. Sou uma pessoa bem disposta, apesar de ter fama de mal-encarado. Quando tenho algum problema não estou bem enquanto não o resolvo. Por isso, às vezes passo pelas pessoas com uma cara menos simpática. Mas é apenas porque vou a pensar na vida. Os tempos-livres são poucos, mas quando os tenho dedico-me à culinária. Antigamente ia para a horta que tenho em casa, mas agora já não consigo. Agora passo tempo na cozinha. As minhas especialidades costumam ser paelha e migas à pescador.

Hoje dava um belo padre, tal como a minha mãe queria. A minha mãe queria que eu fosse padre e, hoje, tenho a certeza que dava um belo padre, apesar de ser católico não praticante. A minha história com a religião é muito complicada. Tenho muito orgulho na minha família. Tenho dois filhos que me orgulham muito. Um é cardiologista e o outro é técnico de logística. Têm 38 e 48 anos. Nunca me deram muitas preocupações e são uns filhos impecáveis. A minha esposa é a minha companheira de toda uma vida e assim será até morrer.

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